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domingo, 17 de abril de 2011

#202 Fagner, "Cartaz"

Quando eu era pequeno, um tio morou com a minha família. Ele era irmão da minha mãe e era garotão de 20 e poucos anos. Enquanto o meu pai trabalhava loucamente, o meu tio participava da minha educação. Ele me botava para estudar, me ensinou a dirigir aos 13 anos, tomava conta de mim na praia, me defendia nas brigas de colégio e me levava para comer pizza ao lado das suas várias namoradas. Dos seis aos dez anos, minha memória afetiva está ligada às presepadas meu tio. Uma das características curiosas do cara é que ele era fã de Raul Seixas e do Fagner. Ele tinha uma fitinha cassete de "Cartaz" que tocava irritantemente.

O cearense Raimundo Fagner é uma figura pitoresca na nossa MPB. Em sua carreira, ele tocou com o Gonzagão, gravou "Borbulhas de Amor", transitou entre o regional e a MPB, gravou um disco com Zeca Baleiro e se notabilizou por vibrar a voz e tremer a cabeça ao cantar os refrões. Entre o brega e o chique, ele escreveu o seu nome na história musical brasileira e muito se deve ao disco "Cartaz", aquele que meu tio tanto ouvia.

No repertório, Fagner gravou canções de compositores nordestinos que acaram se tornando grandes sucessos. Quais? "Revelação", "Fanatismo", "Guerreiro Menino", "Conflito", "Noturno" e "Eternas Ondas", esta última de um tal Zé Ramalho."Jura Secreta", poesia de Abel Silva, foi um dos seus maiores sucessos.

"O aço dos meus olhos / e o fel das minhas palavras / acalmaram o meu silêncio / mas deixaram suas marcas"...

A faixa que mais ouvi neste disco
"Noturno". Ainda faço coro com o Fagner no refrão: "aaaaaaaiiiii, coração alado / desfolhaarei meus olhos / neste escuro véu". Ah, "Jura Secreta" e "Fanatismo" (poesia de Florbela Espanca) são bacanas também.

Presepada musical ou uma pequena curiosidade
Hoje em dia, meu tio é um cara bem-sucedido. Ele é casado e pais de três filhos. Na carteira, ele guarda as fotos dos seus pimpolhos, meu irmão e eu, quando éramos crianças.
De todos os artistas ditos bregas, Fagner é o meu favorito disparado! Na verdade, é páreo duro para o Sidney Magal e o Wando.
"Cartaz", a faixa-título, é tão estranha que chega a ser engraçada. Tem uma batida new-wave, com pitadas caribenhas, uma programação de teclados e uma bateria eletrônica muito mulamba.
Momento cultural! "Cartaz" é uma gíria nordestina. "Dar cartaz" é dar moral, encher a bola, valorizar.

Um pedacinho do disco

5 comentários:

Maria disse...

o fagner é um cara foda. acho que essa coisa brega dele nem é tão autêntica. talvez autêntica não seja a palavra mais certa. é que às vezes parece que o brega poderia não ter sido a primeira opção dele, mas aí não teria tido tanto sucesso.

ou, sei lá, às vezes eu acho que a gente é muito preconceituoso com certos artistas ;)

Surfista disse...

Eu acredito que o Fagner tem um caráter super-regional, mas com algumas letras altamente sofisticadas. Adoro "Canteiros", por exemplo. O lance "brega" é preconceituoso mesmo.

Navegante disse...

Lembrando que ele e o 'galinho' do mengão são grandes amigos há anos. Ao que parece ele tentou a carreira no futebol mas achou que música tinha mais a ver com seus predicados..

Unknown disse...

Adorei a lembrança!
Só complementando que é do Fagner e do Belchior a linda Mucuripe que, gravada por Elis, apresentou os dois para o mundo. Não sei dizer qual é meu brega preferido entre os dois. No fim, a brega sou eu!
Bjão!

Surfista disse...

CACAU, depois de escrever este post, estou repensando o conceito de "brega". Estou quase convictoque Fagner é 100% pop!